Ortopedistas pedem demissão e hospital de Divinópolis deixa de realizar cirurgias

Referência para mais de 54 cidades do Centro-Oeste de Minas, o Hospital São João de Deus, em Divinópolis, deixou de realizar cirurgias ortopédicas. Os 11 médicos que atendiam na unidade decidiram entregar o cargo há cerca de 30 dias, depois que a administração reduziu em 45% o valor do salário dos profissionais. Com a falta de equipe, os casos mais graves são encaminhados para o Hospital João XXIII , em Belo Horizonte. Já os casos menos urgentes aguardam na fila por uma vaga em hospitais da região.

Todo mês, eram realizados no São João de Deus uma média de 1.800 atendimentos ortopédicos. Desses pacientes, pelo menos 70 precisavam passar por uma cirurgia. A especulação é que o hospital esteja devendo cerca de R$ 70 milhões a fornecedores. A redução no salário dos médicos é uma medida tomada pela administração para contenção de gastos.

Segundo o diretor do hospital, Euler Baungratz, os médicos recebiam cerca de R$ 84 mil e o valor era dividido entre a equipe. A proposta da direção era reduzir temporariamente 45% dessa quantia. Os médicos deixariam de ganhar uma média de R$ 38 mil. Não há previsão de quando o serviço será reestabelecido. “O hospital chegou a fazer uma proposta aos ortopedistas, onde os profissionais passariam a receber por produtividade. Ou seja, seria necessário que os médicos atingissem a meta de 90 cirurgias por mês e, cada um deles, receberia R$ 382. A proposta não foi aceita pela categoria”, afirma.

Para o representante do Conselho Regional de Medicina em Divinópolis, Alberto Gigante, os profissionais não podem ser prejudicados pela má administração do hospital. Ele afirma que o órgão apoia a causa dos médicos e ressalta que a saúde em Divinópolis passa por uma situação crítica. “Temos um hospital em regime pré-falimentar e temos uma demanda de pacientes que precisa dos serviços. O médico não pode arcar com os problemas da má administração da unidade. A categoria esteve em várias reuniões, mas nenhuma proposta foi aceita”, diz.

Enquanto o impasse não é solucionado, pacientes precisam aguardam na fila por uma cirurgia. No Pronto Socorro Regional existem 93 pessoas esperando uma vaga, sendo que 9 estão internados. O mecânico Vanir José de Melo, de 45 anos, quebrou a perna no dia 12 de outubro e ficou mais de 15 dias esperando para ser operado. Autônomo, ele contou com o salário da esposa para pagar as contas este mês. “Sem trabalhar eu fico sem receber. Quanto mais adiarem a cirurgia, mais tempo fico parado. Está complicada essa situação na cidade”, diz.

O entregador Wueller Samuel Oliveira Lima, de 32 anos, quebrou o pulso em um acidente de trânsito. Ele está na espera por uma cirurgia há quase duas semanas. “Todo mundo que precisa de uma cirurgia tem que esperar. Estou parado. É um absurdo esse descaso”, afirma.

Segundo a secretária municipal de saúde, Cherie Mourão, desde a suspensão dos procedimentos cirúrgicos no São João de Deus, os pacientes são avaliados na unidade de pronto atendimento que conta com dois médicos ortopedistas. Os casos mais graves são encaminhados para o Hospital João XXIII em Belo Horizonte. O restante tem que aguardar uma vaga no hospital de Santo Antônio do Amparo. Ela garante que este atendimento é suficiente para atender toda a demanda da região.

Fonte: http://www.orfury.com.br/blog/5255/ortopedistas-pedem-demissao-e-hospital-de-divinopolis-deixa-de-realizar-cirurgias.html